A água, o fogo, a terra e o ar pensaram em deixar uma recordação que perpetuasse através das idades a felicidade de seu encontro. Resolveram criar alguma coisa especial que, composta de fragmentos de cada um deles harmonicamente combinados, fosse também a expressão de suas diferenças e independência, e servisse de símbolo e exemplo para o homem. Eu porei as melhores forças de minhas entranhas - disse a terra - e alimentarei suas raízes. Eu porei as melhores linfas de meus seios - disse a água - e farei crescer sua haste. Eu porei minhas melhores brisas - disse o ar - e tonificarei a planta. Eu porei todo o meu calor - disse o fogo - para dar às suas corolas as mais formosas cores. Fibra sobre fibra foram construídas as raízes, a haste, as folhas e as flores. O sol abençoou-a e a planta deu entrada na flora regional, saudada como rainha. Quando os quatro elementos se separaram, a Flor de Lótus brilhava no lago em sua beleza imaculada, e servia para o homem como símbolo da pureza e perfeição humana. Tal como a flor do lótus cresce da escuridão do lodo para a superfície da água, abrindo suas flores somente após ter-se erguido além da superfície, ficando imaculada de ambos, terra e água, que a nutriram - do mesmo modo a mente, nascida no corpo humano, expande suas verdadeiras qualidades (pétalas) após ter-se erguido dos fluidos turvos da paixão e da ignorância, e transforma o poder tenebroso da profundidade no puro néctar radiante da consciência Iluminada. Se o impulso para a luz não estivesse adormecido na semente profundamente escondida na escuridão da terra, o lótus não poderia se voltar em direção à luz. Se o impulso para uma maior consciência e conhecimento não estivesse adormecido mesmo no estado da mais profunda ignorância um Iluminado nunca poderia se erguer da escuridão.

quinta-feira, 14 de maio de 2015

13 maio Salve os Pretos velhos...



Os Pretos-Velhos e as Pretas-Velhas fazem parte da origem da Umbanda e representam a ancestralidade e sabedoria. O segundo espírito a se manifestar em uma sessão umbandista – conduzida pelo Caboclo das 7 Encruzilhadas – foi Pai Antônio. Espírito que se manifestava de forma diferente, trazendo certa humildade e subserviência, possivelmente representando o personagem que era quando encarnado como escravo em terras brasileiras.
Mas ao mesmo tempo que essa figura se mostrava humilde, pacata e até certo ponto-frágil, também era possível antever grande sabedoria e pureza em suas palavras. A linha dos Pretos-Velhos, para alguns considerada a Linha das Almas, das Almas Santas ou Africana, traduz em muito a Umbanda: Um estrangeiro trazido a uma terra desconhecida servindo de escravo e que tinha a sua liberdade tolhida em todos os aspectos, sendo rebatizado com nomes católicos e carregando profunda humildade.
Apesar da Umbanda ser formada inicialmente pelo triângulo de forças: Caboclo, Preto-Velho e Crianças, acredito que essa linha dos sábios Vovôs e Vovós é a que mais representa os valores umbandistas.
Carregado na mironga e no sotaque, sempre fazendo seus benzimentos típicos, vemos a confluência entre a cultura ancestral e tradicional com a temática católica, trazendo um universalismo primitivo incrível e eficaz. São os benzedores por excelência e é quase impossível não gostar de falar com um Preto-Velho.
Para algumas vertentes umbandistas os Pretos-Velhos vêem na Linha de Oxalá, em outras na Linha das Almas, para alguns na linha de Yorimá (Umbanda Esótérica/Iniciática) e em outras é a linha da Evolução, sustentada pelos Tronos da Evolução Obaluayê / Nanã Burukê (Umbanda Sagrada).
Dentro da minha tradição eles são representantes da linha de Oxalá, que é o Orixá Ancestral primordial. Até a manifestação de Oxalá lembra em muito a dos Pretos-Velhos no terreiro, além do fato deles citarem muito: Que o Saravá de Nosso Senhor Jesus Cristo te abençõe!
Mas isso não quer dizer que não sofram irradiação dos demais Orixás, principalmente dos outros Orixás Ancestrais Omulu (Obaluayê) e Nanã Burukê. Além de todos os outros Orixás: Xangô, Iansã, Ogum, Oxum, etc.
Gostam muito de conversar, mas não são diretos em suas palavras. Preferem deixar o filho pensar depois de ouvir uma história. Utilizam o tabaco – em cigarro de palha ou cachimbo – como forma de descarregar as energias negativas e pesadas, mas podem usar diversas ervas para tais fins. Conheço alguns Vovôs que usam a mistura de Calêndula, Sálvia, Alecrim, Alfazema, Rosa Branca, Hortelã e Tabaco como fumo ritualístico.
Podem beber café amargo ou adoçado com rapadura ou mel. Alguns lugares aceitam ofertar vinho tinto ou marafo com mel. Adoram um galho de erva para um cruzamento e um benzimento e podem benzer tanto através da água quanto através do fogo.
Vovô Francisco do Congo ensina um benzimento para ser auto-aplicado: Com um galho de arruda você pode fazer uma cruz em frente a própria testa, depois repete na garganta e por fim repete na frente do coração. Enquanto cruza vai dizendo: “Senhor de Misericórdia, pelas chagas de Jesus, clamo a ti a vossa luz, para que mal nenhum perturbe o meu pensador, meu falador e meu coração, com amor, com perdão, cruzo a frente e atrás, com humildade e sossego, fico na mão do cordeiro, assim sendo.” Por fim joga-se o galho de arruda em água corrente ou fora no lixo, fora de casa.
Pode ser feito diariamente ou no intervalo de tempo que desejar. Sempre finalize os benzimentos com o agradecimento a Deus Maior, o Deus Pai e também reze um Pai Nosso e uma Ave Maria e faça o sinal da cruz.
A cor mais utilizada nas velas e fitas dessa linha é o Branco, porém também podemos ver o uso de violeta, roxo e lilás. Algumas vertentes utilizam velas nessas cores e também velas bi-color preta-e-branca. Na nossa tradição não se utilizam velas pretas, logo podemos usar a toda branca no lugar.
Seu pratos ritualísticos são: Caruru, Mungunzá, Vatapá, Cuscuz, Bolo de Fubá, Pipoca, Bolo de Milho, Cural, Pamonha, Tutu de Feijão, Feijão Fradinho, Doce de Abóbora, Cocada, Rapadura e Batata Doce. Ainda podem receber coco seco, uvas verdes grandes, melão, pinha e pinhão.
Suas flores geralmente são as brancas com muitas pétalas abertas, como crisântemo branco, margaridas, azaléia branca, palmas brancas, dálias brancas. Usam como ferramentas o terço, a cruz, a pemba, a bengala, o chapéu de palha, o cachimbo, etc.
Em seus pontos riscados é comum encontrar estrelas, cruzes, cachimbos, espirais (caracóis), bengalas, entre outros. A saudação a essa linha é “Adorei as Almas” ou “Iaô Vovô, Iaô Vovó”.
Então, nessa data em que é comemorada a promulgação da Lei Áurea, vamos render homenagens a aqueles que nos libertam da escravidão da vaidade e do orgulho todos os dias, com seus conselhos e broncas bem colocadas, sempre “comendo o mingau pelas beiradas”.
Saravá a todos Pretos-Velhos e a todas Pretas-Velhas! Iaô Vovô e Iaô Vovó!


Por Douglas Rainho
http://perdido.co/2015/05/a-ancestralidade-sagrada-sarava-aos-pretos-e-pretas-velhas/#more-1659

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