Eu
escolhi ser monge muito cedo, porque Eu não acreditava muito na vida, porque
não tive muitas escolhas, porque a vida no mundo externo não Me agradava. Era
uma vida conflituosa, era uma vida com dificuldade e na Minha ingenuidade achei
que se me tornasse um monge me livraria dos problemas, porque acreditei que uma
vida dedicada ao caminho espiritual fosse ser uma vida leve, uma vida sem
conflitos, uma vida só com pessoas boas, uma vida de convivência com
almas iluminadas como a Minha. Imaginei que seria um caminho muito bom com
companheiros, com relacionamentos afetuosos, uma vida longe das disputas
afetuosas do mundo material. Uma vida longe da inveja, da raiva, da necessidade
de ganhar dinheiro, de conquistas de fama.
Imaginei
que no Monastério Eu iria encontrar a paz e quanta paz Eu tive de buscar na
Minha mente, quando durante dois anos Me entregavam um balde e um esfregão. Os
outros monges todos meditando, estudando ou cumprindo a sua missão e Eu
esfregando o chão.
Nos
Meus delírios, nas Minhas rezas, nas Minhas orações, pensei assim: -“Puxa Eu
não mereço, devo ser uma alma muito, muito má pra esfregar o chão; só esfregar
o chão...”.
Para
os Meus superiores Eu não falava nada, porque imaginei que eles soubessem tudo
que Eu pensava e que um dia também tivessem esfregado o chão e ali fiquei...
Dois longos anos esfregando o chão sonhando, imaginando como devia ser linda a meditação
daqueles Meus colegas mais velhos que ficavam em suas celas em silêncio
meditando, meditando, meditando. Deviam ter experiências cósmicas maravilhosas.
Quantas vezes eu imaginei como a vida deles devia ser. Uma vida linda, uma vida
de almas iluminadas, uma vida de quem sabia tudo e quanto mais eu achava que
eles sabiam tudo, mais Eu descobria que não sabia nada, porque Eu tinha que
esfregar o chão.
Quando
Eu fui chamado pra receber uma premiação, era o Meu momento de mudança, eles Me
colocaram na horta... E aí foram mais cinco anos cuidando da horta. Todos os
dias, enquanto os monges passavam por mim e Me cumprimentavam, sorriam, Eu
dizia assim: -“Meu Deus, o único que Eu posso olhar pra trás é aquele coitado
que agora lava o chão e que agora não Sou mais Eu, porque agora Sou
jardineiro”.
Assim
fui cuidando da horta e ali tive vários colegas, vários amigos e briguei muito,
porque cada um fazia de um jeito. Às vezes Eu plantava de um lado e outro
replantava do outro e uma planta brigava com a outra, porque elas não eram
compatíveis...
Quantas
experiências Eu tive mexendo na terra, mas Eu sonhava, sonhava, sonhava e
sonhava com a vida espiritual, porque aquilo não era vida espiritual. Mexer na
terra não era vida espiritual. Cuidar de alimentar as pessoas não era vida
espiritual, pelo menos pra Mim não era. Aquilo era um trabalho humano, aquilo
era um trabalho braçal, aquilo era um trabalho que qualquer pessoa podia
desenvolver. Não era um trabalho espiritual e ali Eu fiquei cinco longos anos
da Minha vida trabalhando muito, com dores nas costas, às vezes na chuva, às
vezes no sol, tendo que conversar com as pessoas, ganhar o Meu espaço, porque
Eu tinha a intenção de plantar as ervas, as plantas de um determinado jeito e
as pessoas que estavam do Meu lado não aceitavam, então foi difícil, foram anos
de luta, disputa de poder; poder pela terra, poder pela salsinha.
Assim
foram anos da Minha vida, lutando, Me esforçando num trabalho humano e muitas
vezes Eu pensei: -“Meu Deus, Eu que vim pro Monastério. Estou aqui plantando
salsinhas, tomates, batatas e pimentões; vendo se faz sol, se faz frio, Me
preocupando com o tempo, com o vento, com a falta de chuva ou com o excesso
dela... Cadê o Meu trabalho espiritual? Trabalhos espirituais fazem aqueles
monges que ficam nas celas trancados, fechados, orando. Eles devem entrar em
transes maravilhosos, em situações de ver Deus e com certeza eles vêem Deus e o
único Deus que Eu vejo é o coelho que subiu na terra e comeu as Minhas
plantações, são as pragas, são as pessoas que estão aqui do Meu lado e não Me
deixam fazer o trabalho direito”.
Com
o tempo Eu comecei a gostar, porque tinha dias em que o jardim estava tão
bonito, a horta estava tão linda, tão verde e justamente quando ela estava mais
bonita ela seria colhida no dia seguinte e a terra voltaria a ser revolvida e o
trabalho recomeçava e Eu pensava: -“Isso não é vida espiritual”.
Recomeçar
todos os dias, ter que fazer tudo de novo, ter paciência, limpar as ervas
daninhas, dar continuidade, vencer a Minha preguiça, vencer o Meu cansaço, Me
dedicar, Me dedicar, Me dedicar às vezes pra não ver nada ou pra ver aquele
verde florescer num único dia e no dia seguinte ser arrancado. Isso não é vida
espiritual... Trabalhar tanto pra nada... Não, isso não é vida espiritual. Vida
espiritual devem ser aqueles monges que vão à caverna e aí comecei a pensar que
um dia Eu iria pra caverna; com certeza um dia Eu iria pra caverna, um dia Eu
teria coragem de ir pra caverna, porque para ir pra caverna Eu tinha que pedir,
Eu tinha que fazer um voto, Eu tinha que procurar o monge responsável e dizer
pra ele que Eu queria ir pra caverna, mas Eu não tinha essa coragem e aí Eu
pensava: -“Meu Deus, como sou covarde”.
Quando
Eu pensei isso, Me colocaram pra pintar as janelas do templo e lá fui Eu. Era
um Monastério muito grande, com muitas janelas e passei vários anos pintando
janelas; anos o suficiente pra perder o medo da altura, porque comecei com
muito medo de altura, então eles Me colocaram nas janelas inferiores e ali Eu
falei: “Nossa como Eu Sou feliz, protegido”. Naquele momento Me senti muito
feliz, muito alegre, porque era protegido.
Eu
percebi que as janelas de baixo eram as mais sujas. Ficavam borradas de terra,
as pessoas colocavam as mãos. Ali Eu tinha além de pintar, lixar, tirar a tinta
velha, porque senão a tinta nova não pegava. E Eu pensava: “Isso não é trabalho
espiritual. Trabalho espiritual é uma coisa linda, vem pronta. Trabalhos
espirituais fazem os monges das celas, os monges que ficam nas cavernas, esses
renunciantes maravilhosos e isso que Eu faço não é renuncia, é um trabalho
duro, porque dói Meu braço, tenho que Me esforçar e todo dia Eu tenho que
acordar e fazer tudo igual, a mesma rotina, o mesmo exercício, o mesmo esforço
e ai quando Eu termino, chove e estraga tudo... O Meu trabalho não é
espiritual, porque o trabalho espiritual é perfeito”.
Assim
Eu passei anos, anos, anos e anos pintando janelas. Quando Eu acabava a última
e queria ver a Minha missão cumprida, queria olhar todo aquele movimento,
aquele Meu esforço e dos Meus colegas, apesar de que ali fui mais solitário, Eu
queria olhar aquilo e dizer: “Nossa que bonito o trabalho que Eu fiz”. E aí
quando Eu Me preparava pra olhar tudo isso, a primeira janela já estava suja,
as dobradiças já estavam tortas e tinha de recomeçar e, Eu pensava:
“Felizes os monges que fazem o verdadeiro trabalho espiritual nas suas
clausuras, que entram nas suas celas, que vão para as cavernas”.
Eu
idealizei muito a vida espiritual, idealizei demais a vida espiritual.
Idealizei a morte, idealizei a vida, porque Eu não tinha muita coragem de
viver.
Hoje
Eu sei que vocês, no mundo da matéria enfrentando o que vocês enfrentam,
encontrando seus familiares, se desencontrando dos seus familiares, amando as
pessoas, desgostando delas e tendo que perdoá-las, hoje Eu vejo que essa é a
verdadeira vida espiritual, porque quando Eu fui pra cela e fiquei parado,
sentado, Eu entrei num desespero tão grande que Eu não via a hora de sair da
meditação, Eu não via a hora de sair daquela condição de silêncio absoluto. Eu
precisava das palavras das pessoas, Eu precisava dos movimentos dos olhos, Eu
precisava do riso, Eu precisava das Minhas lágrimas e não tinha nada disso,
porque Eu estava num momento de silêncio e tinha que respeitar e fazer de conta
que estava meditando. Daí Eu pensei: “Meu Deus como Sou ruim, porque deve haver
na cela ao lado um monge verdadeiramente espiritual que deve estar fazendo sua
meditação e deve estar sofrendo com a reverberação da Minha miséria interior,
da Minha confusão interior”.
Hoje
Eu percebo que vocês, com seus desafios diários, com seus momentos únicos de
meditação, quando naquele momento vocês entregam para Deus e dizem: “Deus eu
quero ser um instrumento da sua luz, eu quero fazer o bem para essa pessoa ou
Deus eu quero ser o bem na minha vida”, nesse momento vocês meditam nesse
momento vocês se transformam e nesse momento vocês estão muito próximos de
Deus.
Nunca
menosprezem as suas experiências. Não esperem um lugar sagrado; façam o seu
lugar interno ser sagrado, torne o seu coração um lugar sagrado, torne a sua
mente um lugar sagrado, torne o seu espírito uma presença constante em suas
vidas com consciência, amor e luz.
Antes
de Eu Me tornar Lanto, o Mestre Lanto, o Mestre da Sabedoria da Chama Amarela,
Eu tive muitas vidas como monge. Vidas felizes, vidas tristes, vidas cômicas,
vidas em que as coisas deram certo e em que as coisas deram errado.
Eu
digo que Me tornei Lanto, porque Eu aprendi a esperar, Eu aprendi a paciência,
Eu aprendi a perdoar, Eu aprendi a olhar as Minhas experiências como
experiências importantes e sagradas.
Eu aprendi a reconhecer o Meu Eu de Luz e
é isso que hoje Eu venho falar pra vocês:
“- Desapeguem-se das coisas antigas e acreditem em vocês mesmos como
seres de muita luz, de muito amor, com muita capacidade de se doar”.
Enxerguem
essa luz, manifestem essa luz. Essa é a verdadeira espiritualidade. Essa é a
única luz real.
Recebam
Minhas bênçãos e amor. Eu Estou entre vocês, porque Eu Sou como vocês.
Eu
aprendi que a morte e a vida são uma única coisa:
Um caminhar eterno e um se
transformar todos os dias. Renasçam de suas luzes. Vivam e sejam o seu sol. Paz.
Fonte: Canal - Maria Silvia
Orlovas