Todos
os dias nós nos lembramos de coisas que nos causaram arrependimentos: um hobby
adorado que foi abandonado, uma viagem desejada que não aconteceu, um afeto que
não foi expressado no seu tempo justo.
Como
a maioria daquilo que nos arrependemos, essas histórias não resistem a uma
análise mais apurada. “Toda escolha inclui uma perda”. Perde-se de um lado, mas
ganha-se de outro. Lamenta-se a perda sem considerar o ganho que, inclusive,
pode não ser imediato nem aparente, mas que depois revela-se muito maior.
E
se o que perdemos for melhor do que o que ganhamos, isso também faz parte do
jogo. O problema é que odiamos perder.
São
as más experiências e as perdas, quando admitidas plenamente e saboreadas em
seu gosto amargo, que nos ensinam a viver. Elas nos tornam mais humanos,
falíveis, flexíveis.
É
desse ponto frágil que podemos experimentar a compaixão por outros seres que
perdem, e que sofrem as mesmas dores. Conhecemos o gosto de sua aflição e
podemos ser solidários com conhecimento de causa. O ganho dessa fraternidade em
humanidade, dessa possibilidade de compaixão pelo outro com base em nossa
própria experiência, já seria suficiente para absorver muitos de nossos erros e
incompreensões do passado.
Nada
de julgamentos
Outro
erro frequente: não podemos julgar uma decisão do passado com os olhos do
presente. O que foi decidido baseou-se no nível de consciência que se tinha na
ocasião. Todos nós, se tivessemos o olhar que temos hoje de alguns desvios de rota que fizemos no passado,
seria pouco provável que nos perdêssemos neles. Mas nos esquecemos disso,
geralmente por causa do peso da culpa: “A culpa e o perfeccionismo são as duas
piores doenças da alma”. Nós nos cobramos por uma perfeição que não existe na
espécie humana.
A
palavra arrependimento em grego, é metanoia, que quer dizer apenas “mudança de
direção”. Erramos, admitemos o erro, procuramos remediá-lo e mudamos de
caminho. Simples assim sem cobranças.
É
um longo aprendizado aprender a lidar com o erro de uma maneira firme, mas sem
peso. Momentos de silêncio para acalmar o espírito e nos descondicionar da
culpa é um caminho.
Viver
é fazer escolhas, e algumas delas incluem abrir mão do prazer imediato. Para ser amados e aceitos, ou por amar mais
aos outros que a nós mesmos, muitas vezes fazemos grandes sacrifícios.
A
questão real é que muitas vezes isso é feito como uma espécie de troca. Nós nos
sacrificamos pelos outros, mas achamos que eles nos devem na mesma proporção.
Quando não há reconhecimento e mesmo o sacrifício não é aceito, é comum a
pessoa se arrepender amargamente. Não podemos decidir pelos outros. Eles tem
todo direito de não concordar com aquilo que julgamos ser bom para eles.
Por
isso, ser mais fiel a si mesmo e só fazer sacrifícios de forma incondicional
pode ser um bom norte para não se lamentar mais tarde.
Abrir
mão do controle, ser comum e imperfeito, fazer algo que nunca tenha feito, ser
mais sociavel com os amigos, sobreviver ao amor e às perdas, refletir sobre
tudo mas não se aprrepender de nada são caminhos a seguir.
Amar
a vida e não se arrepender é dizer um sim incondicional a exatamente como ela
é: com sua dose de beleza, natureza e magia tanto quanto sua violência, maldade
e angústia. E, se algum dia nos arrependermos de nossa ousadia, ilusão e
engano, também não há problema. O mundo é assim. Está tudo certo.
Revista Vida Simples
Maio 2013