A água, o fogo, a terra e o ar pensaram em deixar uma recordação que perpetuasse através das idades a felicidade de seu encontro. Resolveram criar alguma coisa especial que, composta de fragmentos de cada um deles harmonicamente combinados, fosse também a expressão de suas diferenças e independência, e servisse de símbolo e exemplo para o homem. Eu porei as melhores forças de minhas entranhas - disse a terra - e alimentarei suas raízes. Eu porei as melhores linfas de meus seios - disse a água - e farei crescer sua haste. Eu porei minhas melhores brisas - disse o ar - e tonificarei a planta. Eu porei todo o meu calor - disse o fogo - para dar às suas corolas as mais formosas cores. Fibra sobre fibra foram construídas as raízes, a haste, as folhas e as flores. O sol abençoou-a e a planta deu entrada na flora regional, saudada como rainha. Quando os quatro elementos se separaram, a Flor de Lótus brilhava no lago em sua beleza imaculada, e servia para o homem como símbolo da pureza e perfeição humana. Tal como a flor do lótus cresce da escuridão do lodo para a superfície da água, abrindo suas flores somente após ter-se erguido além da superfície, ficando imaculada de ambos, terra e água, que a nutriram - do mesmo modo a mente, nascida no corpo humano, expande suas verdadeiras qualidades (pétalas) após ter-se erguido dos fluidos turvos da paixão e da ignorância, e transforma o poder tenebroso da profundidade no puro néctar radiante da consciência Iluminada. Se o impulso para a luz não estivesse adormecido na semente profundamente escondida na escuridão da terra, o lótus não poderia se voltar em direção à luz. Se o impulso para uma maior consciência e conhecimento não estivesse adormecido mesmo no estado da mais profunda ignorância um Iluminado nunca poderia se erguer da escuridão.

quinta-feira, 31 de maio de 2012

Oração da humildade.


Meu Deus, vós sabe que ainda sou um ser em evolução e que muitas vezes fujo dos objetivos que o Senhor traçou para que eu alcance a minha felicidade.
Sei também que nem sempre consigo fazer o bem que desejo, e muitas são as vezes que faço o mal que não gostaria de fazer.
Por isso venho a ti Senhor para rogar força, coragem e lucidez para acertar mais vezes do que me equivocar e quando me equivocar, que seja por fraqueza ou ignorância, mas nunca por deliberação.
Venho a ti para pedir que não permitas que em tempo algum eu perca a vontade de viver, apesar dos momentos de dor e de sofrimento que por certo terei de passar. Peço ajuda para cultivar o otimismo mesmo que o futuro não seja tão promissor. Peço ajuda para que me ensines a desenvolver o romantismo ainda que em meu peito o coração pareça ter emudecido.
Senhor ajuda-me a não perder a fé na amizade, nem que às vezes os amigos me abandonem nos momentos em que eu mais precisava deles. Ajuda-me a cultivar o hábito e a alegria de ajudar as pessoas ainda que muitas delas sejam ingratas e incapazes de retribuírem. Ensina-me a manter o equilíbrio até nos momentos de grandes abalos em que tudo conspire para que eu perca o rumo. 
Senhor ajuda-me a amar sem esperar retribuição nem reconhecimentos dos seres amados; ajuda-me a observar a vida com brilho no olhar, até nos momentos que a escuridão turvar meus olhos; ajuda-me a enfrentar os desafios da vida com garra e disposição, mesmo sabendo que as derrotas são inevitáveis no meu caminho.
Permita-me usar sempre a razão e o bom senso ainda que o apelo dos vícios sejam fortes, insistentes e constantes na minha intimidade. Sobretudo, Senhor, ajuda-me a elevar o sentimento de justiça acima de meus próprios interesses.
Permita-me conservar o amor pela família, mesmo que ela me exija imensos esforços e árduas renuncias em prol de sua alegria. Ensina-me a ver sempre o lado bom e belo das coisas apesar das lágrimas que brotarem amargas da minha alma.
Senhor que eu jamais perca a vontade de herdar as estrelas, mesmo habitando um planeta pequeno, e acima de tudo que eu jamais me esqueça que o Senhor é a Inteligência suprema do Universo, que me ama infinitamente, que prove minhas necessidades, ampara-me sempre e que só quer meu aperfeiçoamento.
Que eu possa entender as pessoas que são mais frágeis que eu. Que eu possa aprender a não julgar meus semelhantes, que eu consiga educar meus sentimentos e desenvolver minha inteligência.
Senhor, não deixe que eu me envolva pela tristeza, pois eu sei que ela me impedirá de ver a esperança que insiste em acenar com a certeza que um novo e lindo dia surgirá.
Nos dias que a tristeza se apresentar dissimulada e insistente em minha janela, que eu possa recolher-me por alguns instantes, buscando me sintonizar com as forças do bem que pairam acima das nuvens densas que envolvem a terra, assim conseguirei alimentar a minha intimidade com a harmonia celeste.
Por fim, que eu nunca esqueça que eu sou um espírito imortal e que minha felicidade é uma conquista minha.
Assim seja!

quarta-feira, 23 de maio de 2012

As sete lágrimas de um Preto Velho.


"Num cantinho de um terreiro, sentado num banquinho, pitando o seu cachimbo, um triste Preto Velho chorava. De seus olhos molhados, lágrimas lhe desciam pela face e não sei por que as contei. Foram sete. Na incontida vontade de saber, aproximei-me e o interroguei.
- Fala meu Preto Velho, diz a este teu filho, por que externa assim, esta tão visível dor?
- Está vendo, filho, estas pessoas que entram e saem do terreiro? As lágrimas que você contou, estão distribuídas a cada uma delas.
- A primeira lágrima foi dada aos indiferentes, que aqui vem em busca de distração. Que saem ironizando e criticando, por aquilo que suas mentes ofuscadas não puderam compreender.
- A segunda, a esses eternos duvidosos que acreditam, desacreditando. Sempre na expectativa de um milagre, que os façam alcançar aquilo que seus próprios merecimentos lhes negam.
- A terceira, aos maus. A aqueles que procuram a Umbanda em busca de vinganças, desejando prejudicar a um seu semelhante.
- A quarta, aos frios, aos calculistas. Aos que, ao saberem da existência de uma força espiritual, procuram beneficiar-se dela, a qualquer preço, mas não conhecem a palavra gratidão e nem a Caridade.
- A quinta lágrima, vê como chega suave? Ela tem o riso, do elogio e da flor dos lábios. Mas se olhares bem, no seu semblante, verá escrito: 'Creio na Umbanda. Creio nos teus Caboclos, nos teus Velhos, e no teu Zambi, mas somente se vencerem no meu caso ou me curarem disso ou daquilo'.
- A sexta, eu dei aos fúteis que vão de Terreiro em Terreiro, sem acreditar em nada, buscando aconchegos e conchavos. Mas em seus olhos revelam um interesse diferente.
- A sétima, filho, notas como foi grande? Notou como deslizou pesada? Foi a última lágrima. Aquela que vive nos Olhos de todos os Orixás e de todas as entidades. Fiz doação desta aos Médiuns. Aos que só aparecem no Terreiro em dia de festa. Aos que se esquece de suas obrigações. Aos que esquecem que existem tantos irmãos precisando de caridade, tantas 'crianças' precisando de amparo. Da mesma caridade e do mesmo apoio que eles próprios, um dia aqui vieram buscar.
Assim, filho meu, foi para esses todos que vistes cair, uma a uma, 

AS SETE LÁGRIMAS DE UM PRETO VELHO.

quarta-feira, 16 de maio de 2012

Adaptação livre do Sermão da Sexagésima.


O que vou falar com vocês é profundo e requer humildade e sabedoria para o entendimento, mas é preciso saber que se apenas uma pessoa compreender, o mundo já será melhor.
Todos estão aqui para aprender, seja o médium, o assistido ou mesmo as entidades. Cada um de nós aqui está em um nível de evolução diferente, mas estamos todos aprendendo.
Ao médium e ao mentor cabe a explicação, mas ao ouvinte cabe o entendimento e só a Deus cabe a Graça.
A explicação é o trigo que para germinar precisa de terra boa. O trigo é o alimento. Mas é preciso aprender com a natureza que tem tempo para as flores, e tempo para os frutos. A vida é feita de verão e primavera, mas também acolhe outono e inverno.
Muitas vezes não entendemos porque estamos passando por determinada experiência, mas os outonos e invernos são necessários porque as flores brotam, mas muitas vão murchar, outras vão cair, outras irão secar, o vento vai levar, e algumas irão frutificar.
O fruto é como o trigo germinado: é a palavra, o alimento. Alguns trigos cairão em pedras, outros cairão em espinhos, outros serão pisados pelo caminho, apenas alguns cairão na terra fértil.
As pedras, o caminho, os espinhos, a terra são os diversos corações dos homens.
Os espinhos são os corações embaraçados com riquezas e delicias. A palavra ai se afoga.
As pedras são os corações duros e obstinados. Nestes corações seca-se a palavra.
Os caminhos são os corações inquietos e perturbados com a passagem e o tropel das coisas do mundo. Nestes corações a palavra será pisada e desprezada.
A terra boa são os corações bons ou os homens de bom coração. Nestes a palavra prende e frutifica com fecundidade e abundancia.
Se o trigo não frutifica a culpa é nossa que não mudamos nossos pensamentos.
Deus está pronto da sua parte, com o sol para alumiar e esquentar, a chuva para regar e amolecer. Mas isso só é possível se os nossos corações permitirem.
Deus dá o sol e a chuva para todos. Cabe a cada um a escolha do que fará com essas bênçãos.
E lembrem-se:
Os ouvintes de entendimentos agudos querem apenas galanteios e elogios. Querem ver os seus problemas solucionados rapidamente.
Os ouvintes com vontades endurecidas não mudam, mas pensam que tudo deve melhorar apesar de sua relutância em aceitar a verdade.
Eu posso falar e falar, mas se não conseguir semear o coração de vocês nenhuma mudança ocorrerá.
As entidades, não devem prometer melhoras para a vida de ninguém se não conseguirem tocar os corações.
As mudanças devem vir dos corações. Assim o coração espinhoso ou duro se amolece e passa a compreender a palavra. Porque ele vê a mudança. E não apenas ouve.
O bom semeador joga sua palavra não para resolver, mas para acertar o coração. Ele ensina a semear e não entrega o fruto pronto. O bom semeador consola e ajuda a erguer a pessoa, mas depois que ela já está de pé, está na hora de ensinar a andar, ensinar a pensar, ensinar a mudar.
Saibam que o bom guia ensina como proceder, mas não promete milagres e nem deixa seu ouvinte amarrado a si. Os médiuns e as entidades são partes de Deus, mas não são Deus. Então, sozinhas não fazem nada.
Lembrem-se todos que somos uma corrente e apenas Deus merece as glorias do que se conquista aqui. Apenas ele. Quando você alcançar alguma bênção, primeiro agradeça aos seus ouvidos que ouviram com o coração. Depois agradeça a Deus. Permita-se conhecer a todos da corrente. Não se fixe em um só, cada um tem um conhecimento que merece ser ouvido. Ouça o que cada um tem a dizer.
Sabemos que é preciso entrar em batalha com os vícios, mas armas alheias, ainda que sejam as das entidades, a ninguém dão vitória. A entidade clareia suas idéias, mas o que é dito não pode ficar apenas nos ouvidos. É preciso que atinja a cabeça e o coração. O que sai da boca pode parar nos ouvidos, o que nasce do juízo penetra e convence o entendimento.
Quando o ouvinte a cada palavra ouvida treme; quando cada palavra é um torcedor para o coração; quando o ouvinte vai embora confuso e atônito, então é a preparação qual convém, para que se faça fruto.
Não queremos que vocês saiam contentes de nós, não que lhes pareçam bem os nossos conceitos, mas que lhes pareçam mal os seus costumes, as suas formas de pensar, os seus passatempos, as suas ambições e, enfim assim haverá mudança, vinda de dentro de vocês.
Vejam um exemplo: olhos, espelho e luz.
Se você tem espelho e é cego, não pode ver por falta de olhos; se tem espelho e olhos, e é de noite, não se pode ver por falta de luz. Pode acontecer de ter olhos e luz e não ter espelho.
Logo, para um ser olhar em si e ver-se a si mesmo é preciso luz, espelho e olhos.
O centro com os médiuns e os guias, mentores ou entidades concorrem com o espelho que é a palavra; Deus concorre com a luz que é a graça da mudança; o ser concorre com os olhos que é o conhecimento de si e do mundo.
Médiuns sejam espelhos da palavra de Deus, mas cuidado com a soberba, o ódio, as ambições, a inveja, a cobiça. Lembrem-se, na verdade vocês são apenas condutores. Quem tem que mudar quem tem que querer quem tem que ter fé é a pessoa que veio nos procurar.
Seres que aqui vem em busca de luz sejam olhos do conhecimento de Deus, mas cuidado com a soberba, o ódio, as ambições, a inveja, a cobiça.
E a vaidade? Cuidado com a Vaidade que está sempre viva em um elogio, em um olhar de admiração. A vaidade é ilusória e acaba com qualquer tentativa de iluminação.
Sejamos sábios buscando a Deus acima de todas as coisas.


De: Padre António Vieira pregado na Capela Real, no ano de 1655.

terça-feira, 8 de maio de 2012

Sabedoria Celta.

Que jamais, em tempo algum, o teu coração acalente ódio.
Que o canto da maturidade jamais asfixie a tua criança interior.
Que o teu sorriso seja sempre verdadeiro.
Que as perdas do teu caminho sejam sempre encaradas como... lições de vida.
Que a musica seja tua companheira de momentos secretos contigo mesmo.
Que os teus momentos de amor contenham a magia de tua alma eterna em cada beijo.
Que os teus olhos sejam dois sóis olhando a luz da vida em cada amanhecer.
Que cada dia seja um novo recomeço, onde tua alma dance na luz.
Que em cada passo teu fiquem marcas luminosas de tua passagem em cada coração.
Que em cada amigo o teu coração faça festa, que celebre o canto da amizade profunda que liga as almas afins.
Que em teus momentos de solidão e cansaço, esteja sempre presente em teu coração a lembrança de que tudo passa e se transforma, quando a alma é grande e generosa.
Que o teu coração voe contente nas asas da espiritualidade consciente, para que tu percebas a ternura invisível, tocando o centro do teu ser eterno.
Que um suave acalanto te acompanhe, na terra ou no espaço, e por onde quer que o imanente invisível leve o teu viver.
Que o teu coração sinta a presença secreta do inefável!
Que os teus pensamentos e os teus amores, o teu viver e a tua passagem pela vida, sejam sempre abençoados por aquele amor que ama sem nome.
Aquele amor que não se explica só se sente.
Que esse amor seja o teu acalento secreto, viajando eternamente no centro do teu ser.
Que a estrada se abra à sua frente.
Que o vento sopre levemente às suas costas.
Que o sol brilhe morno e suave em sua face.
Que respondas ao chamado do teu Dom e encontre a coragem para seguir-lhe o caminho.
Que a chama da raiva te liberte da falsidade.

Que o ardor do coração mantenha a tua presença flamejante e que a ansiedade jamais te ronde.
Que a tua dignidade exterior reflita uma dignidade interior da alma.
Que tenhas vagar para celebrar os milagres silenciosos que não buscam atenção.
Que sejas consolado na simetria secreta da tua alma.
Que sintas cada dia como uma dádiva sagrada tecida em torno do cerne do assombro.
Que a chuva caía de mansinho em seus campos...
E, até que nos encontremos de novo.
Que os Deuses lhe guardem na palma de Suas mãos.
Que despertes para o mistério de estar aqui e compreendas a silenciosa imensidão da tua presença.
Que tenhas alegria e paz no templo dos teus sentidos.
Que recebas grande encorajamento quando novas fronteiras acenam.
Que este amor transforme os teus dramas em luz, a tua tristeza em celebração, e os teus passos cansados em alegres passos de dança renovadora.
Que jamais, em tempo algum, tu esqueças a Presença que está em ti e em todos os seres.
Que o teu viver seja pleno de Paz e Luz