A água, o fogo, a terra e o ar pensaram em deixar uma recordação que perpetuasse através das idades a felicidade de seu encontro. Resolveram criar alguma coisa especial que, composta de fragmentos de cada um deles harmonicamente combinados, fosse também a expressão de suas diferenças e independência, e servisse de símbolo e exemplo para o homem. Eu porei as melhores forças de minhas entranhas - disse a terra - e alimentarei suas raízes. Eu porei as melhores linfas de meus seios - disse a água - e farei crescer sua haste. Eu porei minhas melhores brisas - disse o ar - e tonificarei a planta. Eu porei todo o meu calor - disse o fogo - para dar às suas corolas as mais formosas cores. Fibra sobre fibra foram construídas as raízes, a haste, as folhas e as flores. O sol abençoou-a e a planta deu entrada na flora regional, saudada como rainha. Quando os quatro elementos se separaram, a Flor de Lótus brilhava no lago em sua beleza imaculada, e servia para o homem como símbolo da pureza e perfeição humana. Tal como a flor do lótus cresce da escuridão do lodo para a superfície da água, abrindo suas flores somente após ter-se erguido além da superfície, ficando imaculada de ambos, terra e água, que a nutriram - do mesmo modo a mente, nascida no corpo humano, expande suas verdadeiras qualidades (pétalas) após ter-se erguido dos fluidos turvos da paixão e da ignorância, e transforma o poder tenebroso da profundidade no puro néctar radiante da consciência Iluminada. Se o impulso para a luz não estivesse adormecido na semente profundamente escondida na escuridão da terra, o lótus não poderia se voltar em direção à luz. Se o impulso para uma maior consciência e conhecimento não estivesse adormecido mesmo no estado da mais profunda ignorância um Iluminado nunca poderia se erguer da escuridão.

quarta-feira, 16 de maio de 2012

Adaptação livre do Sermão da Sexagésima.


O que vou falar com vocês é profundo e requer humildade e sabedoria para o entendimento, mas é preciso saber que se apenas uma pessoa compreender, o mundo já será melhor.
Todos estão aqui para aprender, seja o médium, o assistido ou mesmo as entidades. Cada um de nós aqui está em um nível de evolução diferente, mas estamos todos aprendendo.
Ao médium e ao mentor cabe a explicação, mas ao ouvinte cabe o entendimento e só a Deus cabe a Graça.
A explicação é o trigo que para germinar precisa de terra boa. O trigo é o alimento. Mas é preciso aprender com a natureza que tem tempo para as flores, e tempo para os frutos. A vida é feita de verão e primavera, mas também acolhe outono e inverno.
Muitas vezes não entendemos porque estamos passando por determinada experiência, mas os outonos e invernos são necessários porque as flores brotam, mas muitas vão murchar, outras vão cair, outras irão secar, o vento vai levar, e algumas irão frutificar.
O fruto é como o trigo germinado: é a palavra, o alimento. Alguns trigos cairão em pedras, outros cairão em espinhos, outros serão pisados pelo caminho, apenas alguns cairão na terra fértil.
As pedras, o caminho, os espinhos, a terra são os diversos corações dos homens.
Os espinhos são os corações embaraçados com riquezas e delicias. A palavra ai se afoga.
As pedras são os corações duros e obstinados. Nestes corações seca-se a palavra.
Os caminhos são os corações inquietos e perturbados com a passagem e o tropel das coisas do mundo. Nestes corações a palavra será pisada e desprezada.
A terra boa são os corações bons ou os homens de bom coração. Nestes a palavra prende e frutifica com fecundidade e abundancia.
Se o trigo não frutifica a culpa é nossa que não mudamos nossos pensamentos.
Deus está pronto da sua parte, com o sol para alumiar e esquentar, a chuva para regar e amolecer. Mas isso só é possível se os nossos corações permitirem.
Deus dá o sol e a chuva para todos. Cabe a cada um a escolha do que fará com essas bênçãos.
E lembrem-se:
Os ouvintes de entendimentos agudos querem apenas galanteios e elogios. Querem ver os seus problemas solucionados rapidamente.
Os ouvintes com vontades endurecidas não mudam, mas pensam que tudo deve melhorar apesar de sua relutância em aceitar a verdade.
Eu posso falar e falar, mas se não conseguir semear o coração de vocês nenhuma mudança ocorrerá.
As entidades, não devem prometer melhoras para a vida de ninguém se não conseguirem tocar os corações.
As mudanças devem vir dos corações. Assim o coração espinhoso ou duro se amolece e passa a compreender a palavra. Porque ele vê a mudança. E não apenas ouve.
O bom semeador joga sua palavra não para resolver, mas para acertar o coração. Ele ensina a semear e não entrega o fruto pronto. O bom semeador consola e ajuda a erguer a pessoa, mas depois que ela já está de pé, está na hora de ensinar a andar, ensinar a pensar, ensinar a mudar.
Saibam que o bom guia ensina como proceder, mas não promete milagres e nem deixa seu ouvinte amarrado a si. Os médiuns e as entidades são partes de Deus, mas não são Deus. Então, sozinhas não fazem nada.
Lembrem-se todos que somos uma corrente e apenas Deus merece as glorias do que se conquista aqui. Apenas ele. Quando você alcançar alguma bênção, primeiro agradeça aos seus ouvidos que ouviram com o coração. Depois agradeça a Deus. Permita-se conhecer a todos da corrente. Não se fixe em um só, cada um tem um conhecimento que merece ser ouvido. Ouça o que cada um tem a dizer.
Sabemos que é preciso entrar em batalha com os vícios, mas armas alheias, ainda que sejam as das entidades, a ninguém dão vitória. A entidade clareia suas idéias, mas o que é dito não pode ficar apenas nos ouvidos. É preciso que atinja a cabeça e o coração. O que sai da boca pode parar nos ouvidos, o que nasce do juízo penetra e convence o entendimento.
Quando o ouvinte a cada palavra ouvida treme; quando cada palavra é um torcedor para o coração; quando o ouvinte vai embora confuso e atônito, então é a preparação qual convém, para que se faça fruto.
Não queremos que vocês saiam contentes de nós, não que lhes pareçam bem os nossos conceitos, mas que lhes pareçam mal os seus costumes, as suas formas de pensar, os seus passatempos, as suas ambições e, enfim assim haverá mudança, vinda de dentro de vocês.
Vejam um exemplo: olhos, espelho e luz.
Se você tem espelho e é cego, não pode ver por falta de olhos; se tem espelho e olhos, e é de noite, não se pode ver por falta de luz. Pode acontecer de ter olhos e luz e não ter espelho.
Logo, para um ser olhar em si e ver-se a si mesmo é preciso luz, espelho e olhos.
O centro com os médiuns e os guias, mentores ou entidades concorrem com o espelho que é a palavra; Deus concorre com a luz que é a graça da mudança; o ser concorre com os olhos que é o conhecimento de si e do mundo.
Médiuns sejam espelhos da palavra de Deus, mas cuidado com a soberba, o ódio, as ambições, a inveja, a cobiça. Lembrem-se, na verdade vocês são apenas condutores. Quem tem que mudar quem tem que querer quem tem que ter fé é a pessoa que veio nos procurar.
Seres que aqui vem em busca de luz sejam olhos do conhecimento de Deus, mas cuidado com a soberba, o ódio, as ambições, a inveja, a cobiça.
E a vaidade? Cuidado com a Vaidade que está sempre viva em um elogio, em um olhar de admiração. A vaidade é ilusória e acaba com qualquer tentativa de iluminação.
Sejamos sábios buscando a Deus acima de todas as coisas.


De: Padre António Vieira pregado na Capela Real, no ano de 1655.

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